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Conversamos com a pedagoga Claudia Teixeira da Silva, que trabalha em uma escola da rede pública na cidade de Guarulhos, em São Paulo, e ministra aulas de Educação Infantil e alfabetização. Ela nos contou como se adaptou ao ensino remoto e quais medidas a Secretária de Educação da cidade em que reside tomou para que as aulas acontecessem de maneira remota em períodos de pandemia e isolamento social.

Conversamos com a pedagoga Claudia Teixeira da Silva, que trabalha em uma escola da rede pública na cidade de Guarulhos, em São Paulo, e ministra aulas de Educação Infantil e alfabetização. Ela nos contou como se adaptou ao ensino remoto e quais medidas a Secretária de Educação da cidade em que reside tomou para que as aulas acontecessem de maneira remota em períodos de pandemia e isolamento social.

Professores

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EDUCANDO DURANTE A PANDEMIA

O relato de profissionais da educação e suas perspectivas sobre o ensino infantil durante a pandemia

A

lém das crianças e famílias impactadas com o ensino a distância, os professores e escolas precisaram inovar quanto à interação na sala de aula virtual que cada escola, seja pública ou

particular, estabeleceu.

Entretanto, nem todos possuíam contato prévio com as modalidades remotas e tiveram que, rapidamente, se adequar às novas medidas. “A dinâmica do trabalho remoto não foi um problema em si. No entanto, foram condições nas quais ele se estabeleceu que gerou os maiores desafios”, conta a pedagoga Cláudia Teixeira, que dá aulas na Escola da Prefeitura de Guarulhos Josafá Tito Figueiredo. “Migrar, repentinamente, para um mecanismo de trabalho para adaptar sua prática pedagógica não é tão simples assim”, completa.

A pesquisa ‘A situação dos professores no Brasil durante a pandemia’ realizada no site da NOVA ESCOLA instrui que “Mais do que nunca, é necessário um olhar atento ao professor, que é peça fundamental no processo de aprendizagem. A mudança do ensino presencial para o remoto tem exigido adaptação diária dos docentes aos desafios da modalidade”, conta a edição.

A pedagoga diz que ela e a família contraíram a Covid-19 ainda no início da pandemia, o que interferiu diretamente em seu trabalho na escola. "Após 3 meses de afastamento,  no retorno das minhas atividades na escola, a Secretaria de Educação, caminhava timidamente na tentativa de planejar planos de ações efetivos para a qualidade do ensino remoto", relata.

Ainda segundo o levantamento da NOVA ESCOLA, 28,7% dos professores respondentes se identificaram como da Educação Infantil e 42,8% do Ensino Fundamental I. Sendo que um terço (33%) de todos os que responderam à pesquisa, avaliaram a experiência com o ensino remoto como razoável.

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Fonte: NOVA ESCOLA

A diretora Juliana Moratelli, da escola particular Risos e Rabiscos em Joinville, Santa Catarina, diz que no início da pandemia ofereceu capacitação online aos professores de sua escola, mas em seguida, por conta da suspensão de contrato oferecida pelo Governo Federal, não pôde cobrar novas medidas.

“Ficou uma ociosidade e uma frustração por não poder estar em sala de aula. Muitos ficaram realmente sem chão e até adoeceram”, conta.

A pesquisa disponibilizada pela NOVA ESCOLA também aponta que 28% dos professores que responderam avaliam a saúde emocional como péssima ou ruim, e 30% como razoável.

Marca de citação

Um gesto, um olhar, são importantes para fazer diversas avaliações sobre o desenvolvimento das crianças. Aprendizagem vai além da escrita no caderno."

Claudia Teixeira

Primeiras abordagens do ensino na pandemia

Com a falta de um plano nacional para estabelecer medidas padronizadas às escolas, cada instituição pôde seguir parâmetros que estivessem mais adequados à sua realidade, fosse por meio de aulas online, grupos de WhatsApp ou materiais impressos enviados aos alunos.

Moratelli diz que na escola que dirige foram criadas atividades como oficinas online, enviadas via WhatsApp e publicadas nas redes sociais da escola, porém notou que não havia participação, nem retorno efetivos por parte das famílias.

Em seguida, ela e a equipe de gestão da escola alteraram as medidas de aplicação das propostas de atividades. “Mensalmente mandamos kits para casa com atividades programadas para toda semana”, conta. A diretora vê essa mudança como fator que levou os pais a não cancelarem as matrículas de seus filhos na escola, já que teriam atividades a realizar. “Mesmo assim houve evasão escolar e cancelamento de matrículas”, completa.

De acordo com as orientações do Ministério da Educação (MEC) para as realizações das atividades durante a pandemia, divulgado em junho de 2020, o educador do Ensino Infantil deve promover “aproximação virtual dos professores com as famílias para estreitar vínculos e atividades lúdicas, para que as crianças pequenas se desenvolvam brincando”.

Quanto aos anos iniciais do Ensino Fundamental, "a recomendação é que as atividades devem ser práticas e estruturadas e não devem exigir que os responsáveis do aluno substituam o trabalho do professor”, propõe o documento.

A pedagoga Cláudia relata que a adaptação e envolvimento das famílias aconteceram de formas diferentes a depender do nível de comprometimento que já mantinham, antes mesmo da pandemia e, também de acordo com sua disponibilidade de tempo, em vista que nem todos os pais estavam em home office.

Ela diz que “o maior contato é realizado para com alunos que estão com pouco acesso ao grupo de WhatsApp ou nenhum acesso. Entro em contato para entender o que acontece e o motivo da não participação do aluno”, revela.

Escolas da cidade de Guarulhos. Fotos de arquivo.

A prefeitura de Guarulhos disponibiliza, de segunda a sexta, o programa "Saberes Em Casa" que vai ao ar na televisão e por meio do YouTube. “O planejamento é feito paralelo ao ‘Saberem em Casa’, pois ele é desenvolvido a partir do currículo de Guarulhos. Nós temos uma proposta curricular, chamada QSN - Quadro de Saberes Necessários, que define o que a criança precisa saber ao longo da sua educação infantil e ao longo da educação fundamental. Essa proposta norteia o que devemos trabalhar”, explica. "No ponto de vista de atividades é a mesma quantidade ou até maior que no presencial. Temos uma quantidade bastante grande de propostas”.

A interação com o aluno a distância

Com a desigualdade existente no país, nem todas as crianças conseguem participar efetivamente das aulas, ainda que sejam enviadas propostas a serem realizadas remotamente. Para os educadores, esse fator interfere na compreensão das necessidades de cada aluno e a melhor abordagem para os auxiliar.

“A princípio foi complicado porque na sala de aula temos a interação, vemos o rostinho da criança e com isso percebemos os mínimos detalhes”, destaca a pedagoga. “Um gesto, um olhar, são importantes para fazer diversas  avaliações sobre o desenvolvimento das crianças. Aprendizagem vai  além da escrita no caderno. É preciso observar um todo e, por conta da modalidade remota, nem toda criança tem acesso a um computador ou celular e nem sempre temos a possibilidade de alcançá-la”, diz.

“Eu já tive a oportunidade de ver vídeos, de ligar por chamada de vídeo e desenvolver atividades ao vivo com várias crianças, e com isso pude perceber o desenvolvimento como se estivéssemos em sala de aula. Já com outras crianças não foi possível por conta dos recursos”, completa.

Em Guarulhos, Teixeira diz que as aulas acontecem de segunda a quinta, das 14h às 19h. “As primeiras duas horas são realizadas de interações diretas no grupo da sala com as crianças, e até as 19h fico à disposição para as crianças que podem apenas responder fora desse horário inicial. Às sextas, nesse mesmo período, é o dia de planejamento, em que é avaliado o trabalho realizado durante a semana e é estipulado o que será feito na semana seguinte”, relata. 

No segundo semestre de 2021 foi adotado o sistema de rodízio, em que as crianças vão à escola segundo uma escala pré-determinada. Caso os pais prefiram, elas podem permanecer em casa, contanto que cumpram as atividades propostas via WhatsApp.

Quanto às ferramentas para interação com os alunos, a professora conta que é responsabilidade de cada educador. “Os professores que precisam de instrumentos para aulas e de mecanismos precisam por si mesmo dar conta. Seja internet, uso de dados, qualquer que seja a forma necessária que ele precise para atingir o aluno, é ele quem deve providenciar. Nesse sentido, nem a prefeitura nem a Secretaria da Educação têm subsidiado”, revela.

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Ficou uma ociosidade e uma frustração por não poder estar em sala de aula. Muitos ficaram realmente sem chão e até adoeceram."

Juliana Moratelli

Transferência para escolas públicas foi alternativa encontrada por pais e responsáveis

 

Para as escolas particulares, o valor da mensalidade foi um fator que interferiu na permanência das crianças nas instituições e, consequentemente, na efetivação da matrícula em uma escola da rede pública.

A diretora Juliana conta que notou uma diminuição nas matrículas e que desde o início da pandemia os pais solicitaram desconto no valor das parcelas. "Quando começaram as desistências pensei em alternativas para abater também o valor da mensalidade, demos descontos e fizemos negociações”, relata. Com um sistema de abatimento das mensalidades de agosto, setembro e outubro de 2020 e nas do início de 2021, a diretora conta ter mantido 45% das crianças matriculadas na escola em que dirige.

Mesmo que boa parte das escolas particulares não tenha realizado reajuste de mensalidades, as escolas privadas apresentaram queda nas rematrículas para 2021. É o que aponta a pesquisa realizada pelo Melhor Escola, feita com 355 escolas da rede privada, via formulário online.

63,10% das escolas da rede privada de ensino notaram queda na taxa de rematrícula para o ano letivo de 2021. 20,56% observaram um aumento na taxa, enquanto o restante, 16,43%, não notaram alteração nos números de rematrícula.

Diversos fatores podem ter contribuído para que houvesse a diminuição da participação dos alunos em escolas da rede particular. De todo modo, é importante levar em consideração que, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a taxa de desemprego no Brasil atinge 14,8 milhões de pessoas no 1° trimestre de 2021, o que corresponde a 14,7% da população.

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Fonte: Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades/ USP

De acordo com um estudo lançado em abril de 2021 pelo UNICEF, em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ações Comunitárias (Cenpec), mais de 5 milhões de meninos e meninas não tiveram acesso à educação no Brasil em 2020. Cerca de 40% desse número corresponde a crianças com idade entre 6 e 10 anos.

 

A diretora Juliana acredita não ter tido apoio, nem incentivo da prefeitura de sua cidade para com a escola que administra. “Na verdade, a prefeitura mais prejudicou as escolas particulares do que ajudou”, diz. “Começaram a matricular todas as crianças que estavam saindo das escolas particulares no município. Toda criança que saía da escola privada, eles davam um jeito de incorporar na rede pública”, conclui.

No entanto, de acordo com a Emenda Constitucional n° 59, de 11 de novembro de 2009, a educação básica é obrigatória e deve ser disponibilizada de forma gratuita dos 4 aos 17 anos de idade e, inclui gratuidade para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.

Assim, como é amparado na Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990, em seu Art. 54, parágrafo 2, "O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente”.

Em levantamento realizado pelo C6Bank e o Datafolha, a pandemia fez com que 4 milhões de estudantes brasileiros, com idade entre 6 e 34 anos abandonassem os estudos em 2020, uma taxa de 8,4%. A pesquisa foi feita via telefone com estudantes matriculados nas redes pública e privada ou com seus responsáveis e obteve o total de 1.670 respostas válidas.

Um dos principais motivos do abandono escolar é a situação financeira. Os que apontaram dificuldades econômicas somam 19%, e alegaram não ter condições de pagar a escola ou faculdade. A pesquisa ainda aponta que 7% precisam ajudar na renda familiar. Outros motivos foram ter ficado sem aula (22%) e dificuldades com o ensino remoto (20%).

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